NEM MARAVILHAS NEM ESPELHOS - APENAS ALICE: UM ESPETÁCULO SOBRE ABUSO

Daqui a um mês estreia em Curitiba um peça de teatro que vai dar o que falar: Apenas Alice 
Com o objetivo de expor e questionar algumas atitudes praticadas pela medicina e pela sociedade moderna, coletivo teatral independente cria espetáculo baseado em estudos das obras do escritor Lewis Carrol
Duas histórias, ambas criadas durante o séc. XIX, inspiraram os artistas Bila Ivankio e Daniel de Mattos Keller a criar um enredo original, denso e viscoso. Produzida por um grupo de jovens artistas de Curitiba chamado Multipersonas Coletivo Teatral, a montagem Nem Maravilhas Nem Espelhos - Apenas Alice levanta a questão: se hoje fosse permitido trancafiar as pessoas em lugares como os antigos hospícios, aqueles que se dizem “sadios” escolheriam NÃO fazê-lo?
Analisando estudos feitos sobre as obras Alice no País das Maravilhas, de 1865 e Alice Através do Espelho e O Que Ela Encontrou Por Lá, de 1871, ambas do escritor Lewis Carrol, o Multipersonas Coletivo Teatral criou uma peça que mostra como as drogas e os tratamentos que deveriam curar a humanidade, na verdade corromperam a mente de milhares de pacientes e também daqueles que deveriam zelar por eles.
Um de nossos maiores objetivos é fazer a plateia vivenciar esse ‘status maluco’, o desespero de se sentir perdido em vida. Sabemos muito pouco sobre o cérebro humano, mas sabemos que mexer com ele é uma viagem quase sem volta”, explica a diretora e co-autora, Bila Ivankio.
A peça
Depois de produzir um espetáculo com uma turma de teatro infantil, Bila vislumbrou a possibilidade de aproveitar melhor o enredo e direcioná-lo ao público adulto. Foi assim que o novo texto começou a surgir, em novembro de 2016: “Era um texto intenso e que não me deixava dormir. Foi depois de algumas madrugadas escrevendo em um ambiente pouco iluminado, que as cenas apareceram. A primeira cena foi ‘batizada’ de ALMA”, relembra Daniel de Mattos Keller, co-autor e ator.
A peça Nem Maravilhas Nem Espelhos - Apenas Alice não fala do país das maravilhas e tão pouco do que há do outro lado do espelho. A história ainda gira em torno de Alice, porém, em um ambiente muito mais estranho e doentio do que os mundos pelos quais a menina já “viajou”. Abandonada pelos pais por ser considerada uma vergonha, Alice, diagnosticada como esquizofrênica, vive agora em um lugar sem cor, onde tudo é branco exceto pelas manchas de sangue deixadas por seus habitantes.
O “Projeto Alice” é o resultado de um longo processo de estudos, experiências e dinâmicas. Além da prática física – que envolveu exercícios do Teatro da Crueldade (de Artaud) e do distanciamento Brechtiano (de Bertolt Brecht) – o grupo estudou e promoveu discussões sobre as diversas doenças psicológicas e seus respectivos tratamentos psiquiátricos e medicamentosos.
Daniel explica que o projeto trouxe a chance de abordar questões relacionadas sobre como enxergamos e lidamos com as pessoas: “Há um abuso generalizado e que não se aplica só aos ‘doentes’, mas a toda população estigmatizada e/ou excluída, como os aleijados, portadores de deficiência, mendigos, viciados ou pessoas que vivem na miséria. E até mesmo as pessoas com depressão, idosos e a própria classe artística”, esclarece.
Após alguns contatos com teatros e espaços culturais (e muitas conversas sobre quando estrear a peça), o grupo teve a antevisão da data: dia 18 de Maio, o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. “Foi um sinal claro! Tínhamos que conseguir esse dia em algum lugar porque não podíamos perder essa oportunidade para passar uma mensagem tão importante. Foi quando tivemos um retorno da Secretaria de Estado da Cultura - SEEC. Eles gostaram do enredo e da forma como escolhemos abordar um assunto tão delicado, como o abuso e a exclusão social”, relembra Daniel.
Os personagens
A ambientação da peça começa com os próprios personagens. Nessa versão, os personagens do Universo criado pelo escritor Lewis Carroll tem um equivalente no mundo real, tratado neste enredo como o “Mundo Doente”. Criar esses “duplos” foi a maneira que os autores escolheram para fazer um paralelo entre o novo enredo e as referências das histórias de Carrol.  
Mariane Rocha como Alice e Vivi Padilha como mãe. 
Diversos personagens das duas obras com Alice foram mantidos no projeto:
     Chapeleiro Maluco: um interno que sofre de transtorno de personalidade. Oscila entre várias personas, podendo ser amigável, brincalhão, alegre, depressivo, calmo, triste ou violento. 
 Jorge Augusto Costenario como Cheshire, Vivi Padilha como Diretora e Jess Oliveira como Enfermeiro-chefe 
     Lebre de Março: colega de quarto do Chapeleiro. Sofre de ansiedade crônica e Síndrome do Pânico. É extremamente ativa, se irrita facilmente e precisa de sedativos fortes para conviver com os outros pacientes.
     Gato de Cheshire (Gato Risonho): o único enfermeiro que se aproximou de Alice. Seu sorriso é cativante, marcante e assustador ao mesmo tempo. É um homem que se entretém com abusos físicos e psicológicos.
     Coelho Branco: esse personagem representa o tempo, a rotina e os compromissos típicos da cultura inglesa. Nessa montagem, ele é o chefe dos enfermeiros, um homem neurótico e controlador.
     Rainha de Copas: herdeira e diretora do instituto. É uma mulher dura e que não sente remorso ou compaixão pelos internos. É a favor da terapia de choque e da lobotomia.
     Rainha Branca: é a representação da figura materna. Uma criação da mente de Alice, profundamente ligada às memórias que a jovem tem de sua mãe.
     Lagarta Azul: é a ponte entre o Mundo de Alice e o Mundo Doente. Esse personagem é o psiquiatra do hospício e representa o elemento de lucidez na peça.
     Tweedle Dum e Tweedle Di: gêmeos siameses para alguns, paciente com dupla personalidade consciente para outros. Falam juntos e estão sempre unidos. Dois corpos e duas mentes, Dum e Di, Ying e Yang.

Os outros personagens foram inseridos no enredo durante a criação da história para trabalhar o lado humano de Alice:
     Mãe: uma mulher sem voz e arrependida. Uma mãe que não conseguiu coragem para lutar por sua filha. Representa a serenidade máxima e a redenção.
     Pai: um homem típico do século XIX, ou seja, preocupado com seu papel na sociedade, sua família e principalmente, sobre o que os outros pensam e dizem sobre ele. É o principal responsável pelo internamento de Alice.

     Ana, a irmã de Alice: de acordo com documentários sobre a vida de Lewis Carroll, Alice existiu e tinha duas irmãs. Aqui, Ana é a única que Alice reconhece e confia totalmente. Ana nunca aceitou a decisão dos pais e é a personificação da persistência e do amor fraternal.
                            Daniel de Mattos Keller como Psiquiatra, Jorge Augusto Costenario e Julia Charlee como Dum e Di, e Bolívar Escobar como Chapeleiro. 

Sinopse
Nem Maravilhas Nem Espelhos - Apenas Alice é uma montagem inédita e autoral. Um texto novo, mas que fala de uma questão muito antiga e que sempre esteve presente na história da humanidade: o abuso.
Nesta peça, utilizamos alguns dos vários estudos sobre as obras do escritor Lewis Carrol para contar a história de Alice de forma inusitada. Não falamos do País das Maravilhas e tão pouco do que há do outro lado do espelho. O projeto Nem Maravilhas Nem Espelhos - Apenas Alice mostra como as drogas e os tratamentos que deveriam curar a humanidade, na verdade corromperam a mente dos pacientes e também daqueles que deveriam zelar por eles. A história acontece em um ambiente muito mais estranho e doentio do que os mundos pelos quais a menina já “viajou”. Abandonada pelos pais por ser considerada uma vergonha, devido a sua esquizofrenia, Alice vive agora em um lugar sem cor, onde tudo é branco exceto pelas manchas de sangue deixadas por seus habitantes.
Nessa montagem, exploramos o ambiente dos antigos hospícios – hoje extintos na maior parte do mundo – para contar a história desses personagens, que oscilam entre realidade, sonho e loucura.
FICHA TÉCNICA
Direção e Dramaturgia: Bila Ivankio e Daniel de Mattos Keller
Gênero: Drama 
Classificação: 16+ 
Tempo de duração: 90min
Elenco:
Bolívar Escobar
Daniel de Mattos Keller
Jess Oliveira
Jorge Augusto Costenario
Julia Charlee
Mariane Rocha
Vivi Padilha

Figurino, Cenário e Maquiagem: Multipersonas Coletivo Teatral
Trilha sonora original: Beto Siri
Apoio: Secretaria de Estado da Cultura - SEEC, ACCIO Comunicação Estratégica, Camila Borba Fotografia, Colégio Integral, KLOSS Áudio, Studio Santa, Almofofíssimas - Amor em paninhos e Relojoaria Neves.

APRESENTAÇÕES
Dias 18, 25 de Maio e 1 de Junho (sexta-feira)
Horário: 20h
Local: Auditório da Secretaria de Estado da Cultura (Rua Cruz Machado, 138, Centro, Curitiba/PR)
Dias 19 e 26 de Maio (sábado)
Horário: 19h
Local: Teatro Rodrigo D´Oliveira (Rua Trajano Reis, 41, Centro Histórico - Largo da Ordem, Curitiba/PR) 
Ingressos: Para os dois espaços: R$40 (inteira) e R$20 (meia-entrada) | Compra de ingressos antecipados na bilheteria do teatro.

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